Pessoal, como sugestão da Vivi (colega de vocês), coloco aqui uma pesquisa da Datafolha. Talvez vocês sintam um pouco de dificuldade para compreender os dados, mas vale o esforço. Até esse final de semana.
A pesquisa está na integra, caso vocês queiram acessar o site, esse é o link
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=781
Abraços.
Opinião Pública - 27/11/2008
Cotas
A fim de tentar chegar mais perto da compreensão do brasileiro sobre questões de discriminação ou de inclusão do negro na sociedade brasileira, o Datafolha observou o grau de concordância ou discordância em relação a algumas outras frases propostas.
O principal resultado é verificado pela concordância total de 75% dos brasileiros, de que “deveriam ser criadas cotas nas universidades para pessoas pobres e de baixa renda, independente da raça”. Ainda que em parte, outros 11% também concordam com a idéia.
Uma minoria (10%) discorda, totalmente ou em parte, da proposta, entre os quais se destacam os mais escolarizados e os mais ricos (17% cada), segmentos que já haviam demonstrado preferência pela idéia do mérito individual próprio, além dos negros mais escolarizados (20%).
Uma das diferenças de posição entre criar cotas para negros ou para pobres pode ser explicada, em parte, pela concordância da maioria (62%, sendo que 45% totalmente) de que “reservar cotas para negros nas universidades pode gerar atos de racismo”, além de ser supostamente “uma coisa humilhante para eles”, na opinião de 53% (com a qual concordam totalmente 37%).
Concordam totalmente com a idéia de que as vagas poderiam estimular o racismo principalmente os homens brancos (52%), os mais escolarizados (55%) e os brasileiros com renda familiar entre dez e vinte salários mínimos (63%). Entre os brancos, 49% têm essa opinião, ante 44% dos negros que pensam assim.
Também são os mais estudados (44%) e os que declaram renda entre dez e vinte salários mínimos (48%) os que mais concordam com a possibilidade de as cotas tornarem-se humilhantes para os beneficiados.
Uma parcela menor, porém discorda totalmente dessas análises (29% em relação à primeira, e 37% em relação à segunda).
Na mesma linha de raciocínio desses últimos, 62% acreditam que “as cotas para negros nas universidades são fundamentais para ampliar o acesso de toda a população à educação”, sendo que 44% concordam totalmente com a hipótese.
Quase a metade dos brasileiros (47%) discorda totalmente de que “filmes, propagandas e novelas deveriam ter um percentual mínimo de negros”, mas vale notar que 40% concordam, taxa que fica ligeiramente acima da média entre as mulheres negras (46%), e destaca-se entre os negros menos escolarizados (40%) e os que têm renda familiar entre dez e vinte salários mínimos (55%).
São contra a restrição dos negros na mídia principalmente os que fizeram o ensino médio ou superior (48%), os que recebem mais de vinte salários mínimos por mês (53%) discordam da restrição de negros na mídia A maior discordância dos segmentos privilegiados em relação às hipóteses de racismo e humilhação como decorrente da reserva de vagas não expressa necessariamente, preconceito, uma vez.
Estatuto da igualdade racial
51% dos brasileiros são a favor do estatuto da igualdade racial
Até a realização desta pesquisa, em meados de setembro deste ano, cerca de um terço dos brasileiros (30%) havia tomado conhecimento do Estatuto da Igualdade Racial, projeto de ação afirmativa que visa melhorar a inserção social da população negra, e que vem sendo discutido no Congresso Nacional, cujo um dos pontos principais prevê que 20% das vagas em universidades públicas e particulares, no mínimo, sejam reservadas para negros e descendentes, independente das notas obtidas no vestibular.
A maioria (70%), entretanto, não estava ciente do fato, até a data, parcela proporcionalmente maior entre os menos escolarizados (75%), entre os mais jovens (78%) e entre os brasileiros pertencentes às classes D e E (79%).
Entre os cientes do fato, ficam ligeiramente acima da média os que se declaram brancos com 26 anos ou mais, além dos negros (34% de cada), os que moram no sul do país (35%, com destaque para os negros: 45%) e, principalmente, os mais ricos (45%) e os mais escolarizados (47%).
Apenas 5%, entretanto, afirmaram estar bem informados, entre os quais se destacam os brasileiros brancos com nível superior (16%), e os brancos mais ricos (20% entre os que têm renda familiar acima de vinte salários mínimos). Outros 16% do total afirmam estar mais ou menos informados sobre o assunto (22% entre os homens negros), e 9% admitem estar mal informados.
São favoráveis ao Estatuto 51% dos brasileiros, ante 39% contrários; dizem-se indiferentes 5%, enquanto 4% não souberam responder.
A concordância com o Estatuto cai conforme aumenta a escolaridade (de 56% entre os que estudaram até o primeiro grau, para 32% entre os mais escolarizados) e a renda familiar (de 52% entre os que têm renda mensal até dez salários mínimos, contra 31% entre os que recebem acima de vinte salários mínimos), e é maior entre os próprios negros (54%) do que entre os que se dizem brancos (46%), embora se deva ressaltar que 64% dos negros com nível superior são contra o Estatuto.
Questionados especificamente sobre a reserva de vagas para negros e descendentes em empresas públicas e privadas, um dos pontos previstos pelo Estatuto, 54% se mostram favoráveis. Entre os negros, segmento diretamente beneficiado pela ação afirmativa, 55% mostram-se favoráveis, taxa que é de 49% entre os brancos. A aceitação da proposta também diminui conforme aumenta a escolaridade (é de 60% entre os de escolaridade fundamental, ante 30% entre os que têm curso superior), e a renda familiar (de 55% entre os mais pobres para 29% entre os privilegiados economicamente).
Ação social
Um terço dos brasileiros participa de movimentos ligados à igreja
6% dos negros participam de algum movimento negro
Entre os brasileiros, povo conhecidamente religioso em sua maioria, a ação social mais comum é a participação em movimentos ligados a igreja, realizada por 31%.
Menos expressivas, mas ainda entre as mais freqüentes, vêm a participação social em trabalhos voluntários ou comunitários, desenvolvida por 20%, e a ação junto a partidos políticos, por 11%.
Outros tipos de ações sociais, dentre as estimuladas junto aos entrevistados, não chegam a mobilizar dois dígitos da população.
Entre elas, alcançam 7% da população, cada, a participação em movimentos em defesa da natureza e dos animais, e/ou em sindicatos, seguidas da participação em grêmio escolar ou centro acadêmico (6%). Outras ações, também realizadas por uma pequena minoria de brasileiros são: a participação em organizações não-governamentais (5%), em entidades estudantis como UNE, UMES e UBES (por 3%) e, com a mesma parcela desta, em movimentos pela reforma agrária e/ou no movimento negro.
No geral, desenvolvem mais ações sociais os brasileiros mais escolarizados, bem como os mais ricos, sobretudo em trabalhos voluntários ou comunitários (39% dos que têm curso superior, e 31%, ou mais, entre os que declaram renda acima de dez salários mínimos), a participação em ONG’s (14% dos primeiros, e 17% dos que recebem acima de vinte salários), atividades realizadas em grêmios estudantis/ centros acadêmicos (13% de cada segmento), ficando ainda ligeiramente acima da média o trabalho em defesa da natureza e dos animais (11% ou mais, entre os mais escolarizados e os mais ricos), além da participação de 15% dos que têm curso superior e de 16% dos que ganham entre dez e vinte salários mínimos em partidos políticos.
A participação varia, para alguns tipos de ação social, dependendo do estrato populacional.
Homens, mais do que mulheres, participam de partidos políticos (14%, ante 8%, respectivamente) e de sindicatos (9%, ante 5%). Mais mulheres, por outro lado, participam de movimentos ligados à igreja (34%, ante 28% deles). Entre os jovens até 25 anos e que se consideram pardos, fica acima da média a participação em grêmio estudantil ou centro acadêmico (15%, ante 10% dos jovens negros e 8% dos brancos), em trabalhos voluntários (25%, mesma freqüência de participação declarada por negros com idade entre 26 e 40 anos), além de 33% que participam de movimentos ligados à igreja, ante 28% dos negros e 26% dos brancos.
Vale notar, que 6% dos negros participam de algum movimento negro, que 8% dos homens que se declaram negros participam, acima da média (que é de 3%) do movimento negro, assim como os brasileiros negros com 26 anos ou mais (7%).
A principal razão em participar do movimento negro, pelos 3% de brasileiros que afirmam fazê-lo, é a motivação em combater o racismo e lutar pela conscientização da igualdade racial, para 48% desses, principalmente os homens (53%) em comparação com as mulheres (40%), e os que têm, no mínimo, o ensino médio (51%), comparados aos que estudaram até o primeiro grau (45%).
Algo que faz parte da cultura, algo com o que se identifica e é de interesse próprio motiva 12%, com destaque para as mulheres (17%) em relação aos homens (8%).
Outros 7% participam do movimento negro em prol da igualdade social e da democracia, 6% por necessidade de ter mais conhecimento e informações sobre a desigualdade, 4% por gostarem da cultura negra e afro, simplesmente por serem negros, ou por valorizarem a família (4%, cada). Dos brasileiros que se denominam negros e pertencem às classes A e B, 13% declaram participar de ONG’s.
Observados os dados por região, vale notar a participação, acima da média, tanto em partidos políticos quanto em movimentos ligados à igreja, entre os brasileiros residentes no Nordeste (16% e 37%, respectivamente).
São Paulo, 28 de outubro de 2008.
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